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Quando pensei em criar o blogger foi para dar vida aos meus escritos, fazê-los participarem da vida das pessoas. O nome se refere as possibilidades de sentido que damos a nossa existência, portanto, mais do que qualquer sentido psicológico eu busco determinados sentidos existenciais nesta aventura inédita que é ser.


terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A grande internação de usuários de Crack

O internamento compulsório para usuários de crack tem sido pauta de muitas discussões políticas. Esta medida de tratamento foi aprovada na cidade do Rio de Janeiro e Segundo o CFP (2011, p. 6) “Em São Paulo a prefeitura, deu o primeiro passo, no mês de julho, para a adoção de internação compulsória, com a implantação de sistema semelhante ao do Rio de Janeiro”. O Conselho Federal de Medicina mostra-se a favor do internamento principalmente quando se trata de crianças e adolescentes que fazem uso de crack. Alguns profissionais e políticos que apóiam o internamento alegam que crianças não têm capacidade de discernir e tomar determinadas decisões sobre sua própria vida. De uma maneira geral estes usuários têm seus vínculos familiares fragilizados ou rompidos de modo que os pais, não mais exercem controle sobre eles, então o Estado assume a responsabilidade de tratar dos dependentes químicos.

Primeiramente é preciso pensar acerca do próprio termo “dependentes químicos”. Quando ouvimos este binômio, nos vem a mente a imagem de pessoas acabadas, vítimas de alguma substância que “rouba-lhes” a independência. Dizer que usuários de crack são dependentes químicos e precisam de tratamento em regime de internamento é afirmar que todo usuário tem o mesmo problema (uso do crack), portanto, a eles é destinado o mesmo tratamento. Este tipo de intervenção mais parece uma fórmula matemática aplicada a uma equação numérica.

Usuários de crack podem estar no rol dos dependentes químicos e é lógico que não podemos desconsiderar os efeitos biológicos, as alterações fisiológicas, o comprometimento da saúde, as mudanças sociais e familiares causadas pelo uso abusivo da droga na vida de um sujeito, porém não devemos pensar que este uso é igual para todos e que todos precisam do mesmo tratamento. Para Velho (1994, p. 26) é importante frisar “não só a existência de grupos e categorias sociais, que se distinguem no tocante ao seu estilo de vida, mas, principalmente aos múltiplos significados atribuídos a utilização de diferentes drogas”.

Este contexto possibilita a reflexão do lugar e da significação que o uso do crack tem ocupado na sociedade e para cada sujeito em particular. Podemos pensar que a escolha pelo internamento de usuários de crack em detrimento de usuários de cocaína ou de maconha, por exemplo, remete a representação social que o crack e seus usuários têm assumido no imaginário coletivo.

Em entrevista concedida ao programa Papo de Juventude disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=G3u6dRtsD_Q&feature=related o Secretário de Assistência Social do Rio de Janeiro, Rodrigo Bethlem, que é a favor da internação compulsória para usuários de crack disse o seguinte: “O crack é um componente novo. Há dez anos atrás, vinte anos atrás, agente via estas crianças usando cola, hoje é o crack, daqui a pouco é o Ox. Então este componente novo tem que fazer com que as pessoas reflitam”. Esta fala me fez refletir. Antes de tudo gostaria de fazer a seguinte pergunta, quando era a cola o que se fez? Qual foi a política pública inventada para dar conta de uma demanda que existia? E porque agora estão querendo fazer algo com os usuários de crack? Não quero dizer que não seja necessária uma intervenção junto a esta realidade, mas o será que esta ação representa além da preocupação com a droga e com seus usuários? Caso alguém responda que o crack é uma droga mais pesada, os adolescentes estão virando “zumbis” e não se pode comparar com a cola eu sugiro outro modo de pensar. As vidas de crianças e adolescentes também estavam sendo “roubadas” pela cola, ou melhor, pelo contexto social em que se imiscuía o consumo de cola. O cenário é o mesmo, o que muda é a substância. Antes eram crianças e adolescentes agarrados com garrafas de cola, agora são as mesmas crianças e adolescentes com um cachimbo de crack.

Outro ponto importante na narrativa do secretário é a concepção de que o “crack é um componente novo”. Certo, e para componentes novos, novos modos de intervenção. Não se podem tratar novas doenças com antibióticos antigos. Do mesmo modo não se podem realizar intervenções arcaicas para fenômenos modernos. A internação compulsória nada mais é do que a tentativa de higienização social através da exclusão dos sujeitos ao quais foram e estão sendo violados em seus direitos fundamentais, dentre eles a liberdade. Tenho a impressão de estar diante da reprodução da “Grande Internação” relatada por Foucault em “A história da loucura”. Segundo Foucault (2009) foram privados do trânsito nas ruas os homossexuais, os vagabundos, os desempregados, os doentes, os pobres e os loucos, todos internados nos Hospitais Gerais e nas Casas de Caridade.

O fenômeno da drogadição tem uma relação muito estreita e familiar com a loucura e com pobreza. Primeiramente a loucura era encarada como a manifestação do demônio. A pobreza também não escapou, e permeou um contexto fundamentalmente moralizador. Conforme Foucault (2009) havia duas categorias de pobres, aqueles que se submetiam ao internamento e aqueles que não aceitavam a ordem que era imposta, deste modo faziam por merecer a internação. Os primeiros aceitavam o recolhimento e eram vistos com bons olhos, obedientes a palavra do Cristo, os segundos eram “Inimigos da boa ordem, vagabundos, mentirosos, bêbados, impudicos que não saberiam ter outra linguagem que não a do Demônio...” FOUCAULT (2009, p. 61).

O internamento compulsório para usuários de crack corre o risco de reproduzir um modelo segregador e excludente, no renascimento do louco e do pobre, agora na figura do dorgadicto porque a “droga é coisa do diabo”.

As comunidades terapêuticas se propõem a tratar de usuários de crack a partir desta visão. Inclusive a intervenção destas comunidades é realizada através do tratamento moral. O sujeito tem que se apegar a Deus para encontrar um estado de paz que afaste da tentação da droga. A abstinência é a regra básica e talvez única para que usuário volte a ter o direito a salvação. Para Lancetti (2009, p. 64)

A idéia de basear o tratamento na abstinência ou na chamada desintoxicação parece não trazer mudança para a vida da pessoa. Ela aprende a ficar abstinente por um tempo, mas ela não esta preparada para a vida, então o contato com a vida do jeito que ela é faz com que o sujeito regrida.

Não é no internamento que o sujeito será capaz de exercitar seu potencial de crescimento, ou exercerá sua cidadania, antes nos parece responder uma demanda de higienização da sociedade que repudia possibilidade de se deparar com a própria imagem refletida no espelho da drogadição. Deixar as ruas e calçadas livres do mau cheiro do crack, da pobreza, da miséria e da loucura parece ser ainda seu maior sonho.

Segundo Lancetti (2009) a vida não é o mar de rosas experimentado nas Comunidades Terapêuticas, e o usuário de droga, ao sair de lá, encontrará o mundo do jeito que ele é, com desafios, gerador de angústia, e este sujeito precisa aprender a conviver consigo mesmo em uma sociedade que é real.

Para o CFP (2011, p. 6 e 7) “o tratamento em liberdade possibilita que a pessoa se reinvente”. Esta reinvenção se dá através da conscientização da cidadania, da possibilidade de compreender o empoderamento e autonomia acerca de sua própria vida. Realizar intervenções com usuários de drogas não é pensar em uma proposta de reinserção social, porque esta não existe uma vez que a primeira inserção nunca aconteceu.

Para um fenômeno novo, um novo modo de compreensão e aproximação. Não é reduzindo o incomodo gerado pelo uso de drogas a uma política paliativa e higienista que alcançaremos resultados satisfatórios com usuários de crack, porque como diria Lancetti (2009, p. 66) “a droga não é causa, mas sim efeito”.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Notícia jornalística: Balé Popular do Recife faz apresentação no Natal Luz em Surubim

Quem viu a apresentação do Balé Popular no último dia 11 de dezembro de 2011, provavelmente deve ter adorado, ter ficado encantado com a qualidade técnica dos bailarinos e bailarinas. Bela apresentação mesmo sem uma produção adequada, sendo realizada no velho palco da escola Marista Pio XII com os ferros e trapos aparecendo por baixo do palco.
Enfim parabéns ao balé.
Mas eu quero chamar atenção para um fato que para muitos passa desapercebido. É bonito, encanta os olhos e olhares, leva o público a praça e funciona muito bem com um discurso político afinado de ações incessantes para o bem estar do povo apimentado com um “Feliz Natal”.
Talvez você, caro leitor, também se pergunte, porque não vemos apresentações de grupos culturais da cidade? É necessário chamar um grupo de outra cidade para que possamos ver cultura? Em Surubim não há artistas? Respostas: Há e muitos. O que não há é incentivo público para criação e manutenção dos grupos artísticos. A Prefeitura de Surubim não apóia financeiramente, ou não, nenhum grupo cultural do município, se apóia eu desconheço, e se apóia, porque não convida estes grupos para se apresentarem?
É muito cômodo despender alguns recursos trazendo, uma vez no ano, um grupo de dança que faz uma apresentação e não se tem mais nenhum compromisso com ele, enquanto alguns artistas sacrificam-se para confeccionar seus produtos culturais, seus espetáculos de teatro, de dança, dente outros, quando conseguem porque sem apoio financeiro algumas vezes torna-se inviável.
Onde se encontram os grupos escolares? Os grupos das escolas particulares eu até consigo entender que existam, mas eu quero saber das escolas municipais, públicas. Escolas estas que nenhum político arrisca colocar seu filho porque conhece a má qualidade do ensino “gratuito”, entre aspas, porque nada é de graça em nosso país. Por favor, não insultem a minha modesta inteligência. Onde se encontram os grupos independentes? Os grupos das organizações não governamentais? Quais são as políticas públicas de incentivo a cultura do município? Lamento, pois minha cegueira é outra.
No final o publico aplaude, todos se confraternizam, parabenizam o prefeito como se fosse ele quem tivesse se apresentado, e embriagados pela magia da arte se esquecessem que nas entrelinhas do deslumbramento provocado pela apresentação artística existe outra arte maior que é a de ludibriar os ignorantes.
Na sabedoria petista reina a política do pão e circo, para o Natal Luz guardamos o circo porque o pão “mamãe Dilma” já garantiu.

Éllcio Ricardo
11/12/2011

domingo, 9 de outubro de 2011

Uma briga de Egos na Juventude!!

Ah, se todos tivessem a inocência da criança “a vida é bonita é bonita! Viver de qualquer modo é de todos, mas viver na doação da experiência de si sem as pretensões e os falsos saberes autoritários e medíocres é de poucos.
Quanta desilusão achar que reunir jovens ou pseudo representantes da massa juvenil é garantir uma concessão ou acordo de idéias para a efetivação de Políticas Públicas para esse segmento social, esse é o sonho da utopia Marxista. “O Manifesto do Partido Comunista” nunca será compreendido quanto mais experimentado em suas filetas de razão material. A espiritualidade do desacordo reina nas discussões infrutíferas das verborragias do tipo: “Se o povo souber o valor que tem ele vai longe”.
Não sonhem com isso. Poder só será verdadeiramente conquistado quando o saber alcançar as migalhas de concretude e suprimir a razão das ilusões irrisórias. Saber advém da troca de olhares, do toque da pele, do sopro suave da brisa, da sensibilidade, do frio e do calor. Saber é resultado da abertura de si para o outro. Saber não é acreditar que vai dar certo, saber é ter a convicção do amor que flui na experiência dos avessos.
Sonhem, mas não sonhem um sonho possível. Sonho só existe no universo, na finitude da flor ou na grandeza do átomo. Raul Seixas disse que um sonho que se sonha junto é realidade, mas não basta estar junto, em coletividade, é preciso com-partilhar. Sentir-se na experiência única de ser-no-mundo-com-os-outros possibilita a compreensão da partilha na mutualidade dos espíritos que se encontram, almas que se tocam em um diálogo permeável. Discutir Políticas Públicas sem o desposo dos interesses pessoais é perpassar pela mesmice do sonho que se sonha só, fortalecendo a ruptura da partilha dialógica.
A abertura para sonhar junto requer a renúncia dos sonhos individuais e da racionalidade entediante. A juventude quer viver atribuindo sentido ao saber/fazer na construção da partilha sonhadora do impossível para ao menos conquistarmos o real.

Éllcio Ricardo
08/10/2011
Texto escrito na Conferência de Juventude – Caruaru – ainda na discussão de grupo

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Vivo uma existência de Diálogo (Dialógica)

Não é a vida do homem solitário que devemos chamar de monológica, mas daquele que não é capaz de atualizar, de uma forma essencial, a sociedade na qual seu destino o faz mover-se. Somente a solidão é capaz de mostrar a natureza mais íntima do contraste. Aquele que vive dialogicamente, alguma coisa é dita no decorrer habitual das horas ele se sente solicitado a responder; e mesmo no grande vazio de, por exemplo, uma perambulação solitária pelas montanhas, ele não é abandonado pela presença, rica em metamorfoses, do Outro que o confronta. Aquele que vive uma vida monológica nunca percebe o outro como algo que, ao mesmo tempo, não é absolutamente ele próprio, mas com que ele, assim mesmo se comunica. [...] A existência dialógica recebe, mesmo no extremo abandono, uma sensação áspera e revigorante de reciprocidade; a existência monológica não se aventurará, nem na mais terna comunhão, a tatear para fora dos contornos de si mesma (BUBER, 2007, p. 54 e 55).
BUBER, Martin. Do diálogo e do dialógico. – São Paulo: Perspectiva, 2007.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Centro Cultural Dr. José Nivaldo patrimônio de “Todos”



Minha casa foi construída há mais de 30 anos e as maiores reformas das quais necessitou foram à reconstrução do muro da calçada devido à destruição por parte da raiz da árvore e um novo piso colocado em dois quartos porque havia cedido.
O Centro Cultural Dr. José Nivaldo não tem oito anos de existência (quase 4 vezes menos tempo do que minha casa) e já precisou de reforma. Não sei dizer a você, caro leitor, o motivo da reforma; se os prédios públicos são mal construídos ou se é modinha dos políticos mexerem nas obras de seus predecessores. O fato é que agora vamos ter ar-condicionado, um estacionamento sem brita e uma estátua nova (marca da administração Flávio Nóbrega). Esta estátua até que artisticamente foi a de melhor bom gosto.
A fachada do Centro Cultural foi pintada de AMARELO, será que foi por acaso ou anunciando futuras (ou presentes) alianças políticas? Bom, resta-nos saber se irá funcionar de verdade, se poderei apresentar espetáculos de teatro, se verei espetáculos de dança ou artistas utilizando um espaço que é público para a realização e promoção de cultura a qual a atual gesta municipal tem menosprezado, oferecido apenas pequenas migalhas de festas medíocres como se isso fosse cultura.
Surubim terra de grandes artistas, mas que nenhum se encontra em evidência. A propósito, gostei do tom lilás puxado para vinho da fachada inferior do Centro Cultura Dr. José Nivaldo.
Éllcio Ricardo
01/09/2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Até que fim alguém resolve fazer algo pela digna censura musical.



A Deputada Estadual Luiza Maia PT - BA resolve elaborar um projeto de lei que proíbe órgãos públicos de contratarem shows das bandas que cantam músicas com letras que denigrem a imagem da mulher, como por exemplo: “me dá, me dá, patinha, me dá, sua cachorrinha”. Nobre iniciativa deputada, já era tempo de isso acontecer. Ouvimos todos os dias este tipo de música chula e fechamos os ouvidos para o que ela representa. Os pagodeiros, swingueiros, que as cantam dizem que a intenção é apenas proporcionar alegria, que eles respeitam as mulheres, que elas mesmas dançam as músicas... O pior de tudo é que algumas mulheres compram estes argumentos baratos. Primeiro pensem uma coisa, quem compõe estas músicas são homens ou mulheres? Resposta: Homens Quem cantam? Resposta: Homens.
Esta música nada mais é do que uma contra reforma do movimento feminista, ou seja, um movimento de estancar a tomada de autonomia e poder alcançado pela mulher no século XXI. São homens querendo ludibriar a lucidez feminina oferecendo a elas pequenas doses de auto-desvalor, misturadas com um swing servil. Ritmadas pela musicalidade, pelo bailar do corpo entregue ao saciar dos movimentos sensuais, deixam-se arrastar como lagartas ignóbeis impregnadas de ignorância reproduzindo a mesma servidão de outrora ao machismo patriarcal.
Dançamos o ritmo e esquecemos a letra para obscurecer que a mulher dança sua própria descompostura, esquecemos a letra porque não é importante que a mulher tenha consciência de que ela é "escrava", "cachorra", que merece ser tratada como objeto abjeto nas mãos dos “seres superiores da criação”. Os homens que apóiam estas letras nas músicas de pagode, forró, tecno-brega ou outros, desejam que a mulher permaneça no mesmo lugar de sempre, na reserva ou na cozinha. Estas músicas são o próprio incentivo a violência de gênero, ao abuso e exploração da imagem do feminino nos dias hodiernos.
A dignidade começa pelo reconhecimento do lugar que se ocupa na sociedade e pela consciência do sentido acerca do modo de produção de sua representação social. Compactuar com este gênero musical produzido, por homens, é desconsiderar toda uma jornada de luta em prol da conquista do direito do respeito social, alcançado pela mulher, do usufruto da liberdade e da possibilidade de fortalecimento de uma existência autônoma e empoderada, eminentemente feminia.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sobre a Religião que Separa...

Certa vez uma pessoa me disse: pessoas que professam a fé de religiões diferentes não poderiam ficar juntas, pois não daria certo e isto estava escrito na bíblia. Pensando nisso resolvi escrever estas simples palavras na tentativa de vivificar o que penso a respeito.
Tudo seria tão mais simples, tão mais fácil”. Disse ela. Eu respondi da seguinte forma:
E se isso não tivesse sido escrito, se ninguém escrevesse que pessoas de diferentes religiões não podem ficar juntas, como se a medida do amor fosse feita pela densidade das páginas escritas em papel fugidio? Tudo seria tão mais simples se entidades preconceituosas não ousassem manipular mentes frágeis incutindo mesquinhezes infrutíferas e tóxicas que agonizam e destroem a afetividade em desenvolvimento. Religião é rótulo pouco criativo no mundo das informações verossímeis acerca da experiência de amar por inteiro, de sentir por pedaços e de abraçar por completo. Hoje, precisamos mais do que religiões, estamos cansados de ouvir a mesma conversa repetitiva de pecados imperdoáveis e de arrependimentos obrigatórios. Caso você pense em escrever algumas palavras, por simples que sejam, saiba que alguém pode tomá-las como verdade e enveredar por caminhos mentirosos e trôpegos. Que esta pessoa acreditará tanto no que você escreveu que a dúvida estará para sempre sepultada nas catacumbas da zona de conforto. Esta pessoa será tão feliz, por encontrar uma verdade absoluta, que nunca sentirá o prazer de estar desacobertado, só, ou mesmo muito angustiado por não saber o que fazer. Quando acreditamos tanto na palavra, que mata, temos o desprazer de nos encontrarmos com o que vivifica. Mas pouco importa se escrevemos ou não, escrever é apenas fragmentar uma idéia maior, é apenas codificar o ininteligível e submergir da profundidade densa do oceano obscuro na tentativa de procurar um decigrama de oxigênio para continuar na ilusão. Ir ao espírito é tão perigoso quanto escrever a palavra que mata, porque só aparecerá o espírito que queremos ver. A cor branca, iluminada, é o sonho de todo vidente mergulhado no doce sabor da pureza, esquecido que o amargor da alteridade é o que nos faz ser o próximo do nosso próximo. Estar com o semelhante é por demais seguro e confortável. O desafio de viver está na diferença do parecer, na similitude do avesso e na contradição das aparências. O amor reclama o desamor, a dor solicita o remédio, o ódio à compaixão. A religião também deveria se basear na experiência humana dos desiguais para não morrer de mesmice na semelhança vil.

Ser-no-mundo do Teatro