Não é a vida do homem solitário que devemos chamar de monológica, mas daquele que não é capaz de atualizar, de uma forma essencial, a sociedade na qual seu destino o faz mover-se. Somente a solidão é capaz de mostrar a natureza mais íntima do contraste. Aquele que vive dialogicamente, alguma coisa é dita no decorrer habitual das horas ele se sente solicitado a responder; e mesmo no grande vazio de, por exemplo, uma perambulação solitária pelas montanhas, ele não é abandonado pela presença, rica em metamorfoses, do Outro que o confronta. Aquele que vive uma vida monológica nunca percebe o outro como algo que, ao mesmo tempo, não é absolutamente ele próprio, mas com que ele, assim mesmo se comunica. [...] A existência dialógica recebe, mesmo no extremo abandono, uma sensação áspera e revigorante de reciprocidade; a existência monológica não se aventurará, nem na mais terna comunhão, a tatear para fora dos contornos de si mesma (BUBER, 2007, p. 54 e 55).
BUBER, Martin. Do diálogo e do dialógico. – São Paulo: Perspectiva, 2007.