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Quando pensei em criar o blogger foi para dar vida aos meus escritos, fazê-los participarem da vida das pessoas. O nome se refere as possibilidades de sentido que damos a nossa existência, portanto, mais do que qualquer sentido psicológico eu busco determinados sentidos existenciais nesta aventura inédita que é ser.


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Um poema para a liberdade

Voa meu amor que voar te faz
Te embeleza, te refaz 
Sobre as nuvens, sem fronteiras
Voos altos e velozes
Rasantes bem de perto
O que vale é que estas acima do chão
Se vais de avião?
Que importa! Não precisas deles sempre
As estrelas da terra sempre visitam suas amigas penduradas no céu
Estas sim são sofridas
Elas não voam, não sentem o vento
Você é a candura da brisa, que toca o orvalho
Voa mais e mais, porque é de sonho que a vida foi feita
Sonha muito, sonha tão intensamente para me encontrares
Porque estarei no teu sonho
Voa e volta ao chão quando eu aqui estiver
Voa comigo quando as nuvens nos convidarem
Voa que é no sonho que nasce a liberdade
E quando te sentires livre, voa pra mim 
Porque estarei de braços abertos para acolher teu pouso.


Éllcio Ricardo 01.11.13

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

EU E A LOUCURA, UNIDOS PELA LAGARTA.


Hoje fui realizar um trabalho no CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, dispositivo de saúde estratégico do modelo de reorientação da Política de Saúde Mental proposto pela Reforma Psiquiátrica. Cabe aos CAPS o acolhimento e a atenção as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes.
Após o término do trabalho me deparei com uma cena muito simples, uma lagarta de pêlo subindo no carro, então resolvi devolvê-la ao ambiente que achei que fosse mais apropriado, uma árvore rodeada de grama verde. Se tratava de uma lagarta de fogo verde da família Saturniidae gênero Automeris, bem não sei se estas últimas informações mudam alguma coisa ou são tão importantes assim, o fato é que o único perigo que representam esta relacionado ao contato. Caso alguém toque em suas cerdas pode sofrer queimaduras pela liberação de toxinas. Informação básica passada por um profissional de saúde, hehe.
Voltemos ao caso. Olhei demoradamente para a lagarta antes de deixa-la na árvore, admirando sua beleza. Ela tinha nas costas uns ramos espetados como espinhos, esverdeados, brilhantes. Entre o fascínio e a razão decidi fotografar na tentativa de guardar aquela imagem por mais tempo e poder consultar quando a vida urbana voltasse a consumir minha realidade. Busquei o melhor ângulo, mas a foto não ficou boa e eu expressei num gesto balançando a cabeça. Não sabia eu que estava sendo observado por algumas pessoas companheiras de trabalho. Ao voltar para o grupo recebi logo um, “num disse que este menino tinha problemas você não quer ficar no CAPS não? Porque isso não é normal”. Respirei fundo...
Antes de questionar o conceito de normalidade para esta pessoa, gostaria de pensar: se ela disse isso pra mim, que apenas devolvi uma lagarta ao seu habitat, o que esta profissional não pensa dos sujeitos com esquizofrenia? O que os delírios não despertam nela? Ao me enquadrar como sujeito que precisa de tratamento psiquiátrico apenas porque admirei uma lagarta e tive um gesto de aproximação com o animal ela circunscreve a normalidade dentro de um parâmetro muito estreito ao meu entender. Qual a visão desta profissional com relação às pessoas com sofrimento psíquico? O que é normal? Viver aquilo que todo mundo vive sem questionar os valores e os hábitos que a sociedade impõe? Sem se dar o direito de olhar um animal, pouco comum e de uma beleza tão singular? Pensar como alienados consumistas que só conseguimos nos relacionar com carros, sapatos, roupas e marcas? Fazer dos programas mentais, criados para nos fazer cada vez mais apáticos, o modelo de normalidade? Deveremos permanecer como seres domesticados que nunca aprendemos a questionar a realidade? Ou melhor, a experimentar outras formas de relação com o mundo o com os seres que nos cercam? Será que não estamos suprimindo e limitando nossa capacidade de sonhar nosso sonho interior e estamos apenas reproduzindo o sonho exterior de uma sociedade?
Aprendemos as coisas e reproduzimos sem a mínima capacidade de questionar. Aprendemos a nos comportar, em que acreditar, o que é bom o que é mal, bonito, feio, certo, errado e nunca nos sentimos livres o suficiente para pensar se estas coisas fazem sentido. Simplesmente introjetamos e pronto! Dom Miguel Ruiz no Livro “Os quatro compromissos” afirma que muitas coisas que fazemos não fazem parte nas nossas escolhas, mas nunca paramos para pensar sobre elas, se são nossa realidade ou não, somente vivemos como se isso fosse a única possibilidade. A única possibilidade nesta sociedade é trabalhar - de preferência em algo que dê bastante dinheiro - ter bens materiais, uma família e acumular, ou até mesmo vestir estas roupas que todo mundo usa. Esse processo foi que ele chamou de domestificação do sonho. Não acredito que exista forma de domestificação maior do que o julgamento. Estamos o tempo todo julgando dos outros, aprendemos que existe uma maneira certa de ver e viver e fazemos dos outros objetos da irregularidade, baseados na ideia de que eu sou o padrão de comparação.
Não descobrimos nosso sonho interior e ficamos vagando e aceitando o sonho da sociedade. Não paramos para descobrir nossa verdade. O delírio não seria a livre expressão do sonho que outra pessoa não teve a ousadia de sonhar? O que define que a diferença no modo de sonhar seja aliada ao campo da psicopatologia? Qual a relação entre a admiração da natureza e a patologia mental? Na verdade o que caracteriza a psicopatologia é o estreitamento no modo de pensar e sentir a vida. Não é o delírio que faz a psicopatologia, mas sim o circunscrição da vida ao delírio, é a ideia que circula e não ganha a proporção do sonho, da longitudinalidade.  Patológico é viver sem sentir a vida, sem construir um laço de abertura para a diferença, sem descobrir sua própria verdade.
O que é a loucura senão o modo de viver aquilo que ninguém tem coragem. Vamos provar isso? Você teria a coragem de falar pra todas as pessoas que não concorda com o que elas fazem? Dizer sinceramente que não gosta de uma pessoa sem ter problemas nenhum com isso? Ser congruente o suficiente para fazer aquilo que tem vontade? Quantas vezes queremos fazer algo e pensamos: “o que as pessoas vão pensar”? Tem muita gente olhando? Você comeria pizza com a mão em um restaurante de “granfino” se tivesse vontade? Não você diria: “estas coisas se fazem em casa”. Mas quem disse isso? Nos domesticaram e simplesmente acreditamos nisso, mas nossa vontade é outra. Cabe uma pergunta: porque a loucura inquieta tanto? Porque nos defendemos o tempo todo dos loucos? Excluímos, prendemos, jogamos nos manicômios, matamos, violentamos, discriminamos todas as formas de loucura em todas as épocas. O que ela tem de tão ameaçador? Porque a tememos tanto? Penso que odiamos e afastamos de nós aquilo que não queremos reconhecer em nós próprios. Estar aberto para descobrir nossa verdade pode nos revelar vontades muito loucas, portanto é melhor nos defendermos afastando esta loucura. Temos tanto medo de nos descobrirmos loucos, por termos aceitado aquilo que não queríamos, casado com que não amávamos, estudado medicina (ou qualquer outro curso) sem gostar, apenas porque nossos pais queriam, ficado em casa quando na verdade queríamos sair, calado quando desejávamos mandar a pessoa pra PQP, mas não, precisamos ser educados... Mas isso não é educação, é mediocridade.
É loucura, loucura de não ouvir a voz do coração, a verdade que só nós podemos acessar. O que tememos é reconhecer que vivemos mais loucos do que sãos, que nossas escolhas e nosso projeto de vida são tão domesticados, que poucas vezes paramos para escutar nossa verdade. E a loucura que está em nós precisa ser abafada porque não é conveniente ser assim “anormal”.
 Por fim deixo a frase de Cervantes,“E um dos indícios pelos quais conjecturaram que ele morria foi ter-se transformado com tanta facilidade de louco em são”.
Éllcio Ricardo
30.10.13

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Igreja para homossexuais: invenção, salvação e alteridade

Esta semana fiquei sabendo da existência de uma igreja para homossexuais e o uso de uma bíblia específica que norteia as práticas espirituais no templo de Deus. Verdade ou não, este fato me chamou a atenção. Parei para pensar na capacidade de inventividade humana e o quando este livro, que chamam de sagrado, é fruto desta capacidade. Com todo o respeito que as crenças alheias e as religiões merecem, este notícia reforçou, em mim, a ideia de que este manual de práticas espirituais e matérias não é senão uma invenção muito bem elaborada pela mente humana. Um livro sagrado que contém todos os códigos de conduta para guiar os comportamentos humanos, com isso direcionar as almas para o bom caminho e o encontro com o ser supremo. A salvação. Ah, a salvação! Quem não a quer, tendo em vista a consciência de culta que a todos atormenta. Vivemos no mundo marcado pela separatividade, exclusão-reclusão, inclusão mal sucedida e segregação. Se não conseguimos juntar todos do planeta Terra ao menos trabalhemos em prol das ovelhas desgarradas para que no mundo do além estejamos juntos. Neste mundo sim, cabem todos! Dentre muitas, uma das imbecilidades humanas é não enxergar que a diferença é o que constitui a essência e, dá cor as relações entre os seres carnais. A invenção de uma bíblia para homossexuais não é senão mais um tentativa de inclusão de uma diferença que não esta sendo contemplada e enxergada com olhos de alteridade. Ao mesmo tempo em que os religiosos dizem que não podem adentrar os mistérios de Deus, se acham tão pretensiosos para dizer que, este mesmo Deus, ofereceu a possibilidade de alguns seres de sua criação não fazerem mais parte dela, pois estariam amargando as ácidas dores do inferno. Não percebemos que continuaremos inventando, tantas alternativas, quanto forem precisas para que construamos um mundo em que caiba todos, loucos, cegos, homossexuais, idosos, mulheres, crianças, pretos, brancos, azuis, amarelos e cinzas. A religião, talvez a maior instituição de poder já criada pelo homem, não irá impedir este movimento de luta por um espaço, um lugar de pertencimento, porque somos todos humanos. Porém, este mundo que cabe todos, está sendo construído através da separatividade, da exclusão, das guerras e conflitos, preconceitos e discriminações sem fundamento. Até quando precisaremos inventar, a custa da separação, para nos sentirmos pertencentes a este lugar que é nosso? Até quando precisaremos lutar para garantir a inclusão de todos? Colocar o outro neste processo de pertencimento, com respeito as diferença, não é senão, nos sentirmos pertencentes à Terra. Ela é o único lugar que habitamos e é nela que nos experimentamos, sentimos, choramos, sorrimos, silenciamos e gritamos. Ela aceita a todos e porque insistimos em separar, abominar, condenar, julgar? Dizemos que “coração de mãe sempre cabe mais um” o que é a Terra, senão nossa grande Mãe? Que ela venha e nos abrace, porque cada um será sempre bem vindo.