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Quando pensei em criar o blogger foi para dar vida aos meus escritos, fazê-los participarem da vida das pessoas. O nome se refere as possibilidades de sentido que damos a nossa existência, portanto, mais do que qualquer sentido psicológico eu busco determinados sentidos existenciais nesta aventura inédita que é ser.


segunda-feira, 10 de março de 2014

“FOI TÃO RÁPIDO...”


Esta foi a frase pronunciada por uma criança de aproximadamente 10 anos que assistia as apresentações de Maracatu, Caboclinho e Boi no carnaval de Surubim, pobre criança, lhe tiraram o doce no momento em que ele ficava mais saboroso.
É um absurdo como a gestão municipal se refere a cultura popular e ainda nomeia o “Desfile das Virgens” de Carnaval Multicultural. O que é Multiculturalidade? Tratar os grupos de cultura popular como um bando de “Zé Ninguém” que desfila numa avenida repleta de reboques que competiam pra ver qual alcançava o maior volume de decibéis ou escoltá-los com um Trio Elétrico de swingueira e axé music? Não me atreveria a falar em carnaval multicultural. Ao chegar no palco da usina a resistente expressão popular nem sequer teve direito a ser vista mais de cima. A apresentação foi no chão mesmo, em um espaço rodeado por uma grade que mais parecia uma gaiola que não precisa ser fechada em cima já que os homens não voam, nem quando usam penas ou estão folclorizados.
O destaque vai para o apresentador da festa que ao ver o Trio Elétrico colado com os blocos populares falava ao microfone: “Por favor! Mais respeito a cultura popular, dêem uma parada”. E quando os bois e caboclinhos começaram a se apresentar na “gaiola” ele emendava: “Vamos ser rápidos pessoal”, “só três minutos”, “os trios precisam descer, não temos tempo”. – Coitada da criancinha que disse: “foi tão rápido”. É pequena encantada com a magia popular, também percebi que foi tão rápido.
Isso é carnaval multicultural? Uma parada de três minutos e pressionada? Era como se dissessem: Vão embora logo que a gente quer se embriagar e escutar música chula. Uma falta de respeito, uma desvalorização, uma indecência com as expressões populares que partiu daqueles que mais deveriam incentivar as raízes que sustentam a ancestralidade humana. A cultura popular parte da simplicidade mesmo, do que é mais ontológico, da vida em comunidade e do compartilhar das experiências. Ela só precisa ter crianças como aquela, só precisa ter rostos hipnotizados e impressionados com a desenvoltura dos caboclos, com as cores e os personagens do boi, de olhos fixos tentando desvendar o mistério desconhecido de uma estória que ali se manifestava.
A secretaria de cultura deveria ter mais respeito e atenção as manifestações populares. Cultura popular não é coisa para ser exibida sem valor – e visibilidade – para discurso político de palanque.

Éllcio Ricardo
Psicólogo - 10/03/2014

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